Nos
tempos em que andou tentado dar pequenos golpes em estúdios de pequeno e médio
porte em Los Angeles, meu amigo conhecera um ator que se tornara seu amigo.
Hoje, pra sobreviver, ele vendia crack e “outras coisas de qualidade garantida”
nas esquinas da cidade.
Se
ainda conseguisse localizar o ator-traficante, ele seria a pessoal ideal.
Ideal
pra quê? Bem, pra voltar a atuar, agora no papel de um nobre da corte de Dubai,
que, por se sentir desprestigiado nas bilionárias transações do governo com
enormes corporações multinacionais, queria sua parte em toda essa putaria
financeira nebulosa.
Primeiro,
no entanto, era preciso convencer Speed a se expor novamente àqueles políticos
da pasta. Ele se reaproximaria de alguma maneira do grupo e daria sinais de que
tinha uma informação que “valia ouro”, obtida através de uma seguríssima fonte
da Polícia Federal, a quem fizera, no passado, um inestimável favor de caráter
familiar.
Não
sei se todo o piloto de helicóptero clandestino tem a falta de um ou vários
parafusos na cabeça, devido ao fato de aceitarem enfrentar riscos fatais, tanto
no ar quando em terra. Seja como for, na cabeça de Speed deviam faltar não
apenas vários desses parafusos, mas também algumas engrenagens importantes ao
instinto de sobrevivência da raça humana.
Achou
o plano “perfeito” e disse que já estava dentro.
Localizar
o ator-aposentado-traficante não foi tão difícil assim. Meu amigo tinha muitos
contatos em Los Angeles e não somente em pequenos e médios estúdios.
Costumava invadir festas de celebridades em
busca de alguma chance de arrumar trabalho e, principalmente, para se chapar,
mas acabava saindo dessas festas, quase sempre, sem condições de dirigir.
Em
algumas dessas ocasiões, pegou caronas com motoristas de algumas dessas
celebridades, que, por estarem mais chapadas ainda do que ele, o convidaram
para “saideiras” em suas mansões.
Enfim,
conversa vai, conversa vem, em alguns desses casos, acabou ficando amigo de
verdade de alguns astros e sabia que, estes, por questões de solidariedade,
compaixão, fidelidade ou seja lá o que for, continuavam a se abastecer com o traficante-aposentado-ator.
Levantou
um empréstimo com um dos agiotas lituanos que ainda não o conhecia bem e foi
pra Hollywood. Em três dias, tinha encontrado seu homem parado, bem cedo da manhã,
numa das esquinas mais movimentadas da cidade. Abraçaram-se efusivamente e meu
amigo, aproveitando-se do início da ressaca do ex-ator, começou de imediato a
expor seu plano de oferecer-lhe um emprego para voltar a atuar.
Por
volta das quatro da tarde, na mesa de um boteco a quilômetros de distância de
onde se encontraram, os dois finalmente fecharam um acordo na base do aperto de
mãos.
Viajaram
no dia seguinte e foram direto pro galpão que meu amigo acabara de alugar, pra
discutir e ensaiar detalhes de como um ex-ator traficante se transformaria em
um alto membro da nobreza de Dubai. Em paralelo, Speed, que também participava
das reuniões, ia preparando o caminho para ter contato novamente com os
políticos da pasta.
Foi
mais ou menos a essa altura, que meu amigo me ligou perguntando como poderia
entrar em contato com meus amigos hackers. Sem pensar muito, dei as coordenadas,
com medo de perguntar exatamente pra quê.
Sem
sequer imaginar, muito menos perguntar, fique sabendo, no dia daquele primeiro
encontro no galpão, que meu amigo “e alguns investidores” já tinham grana
suficiente para comprar os direitos autorais do uso das imagens de alguns
personagens de histórias em quadrinho e filmes.
Minha
única e vaga noção sobre o processo é que o “depósito de confiança” dos
políticos da pasta havia passado por contas de empresas fantasmas de diversos
paraísos fiscais, até ir parar na conta de uma companhia encarregada de
implantar rede de água e esgoto numa tal Ilha Santa Lúcia, também ali pela
região do Caribe.
Senti
um arrepio no fundo da espinha ao perceber que ele estava falando sério sobre o
assunto e que, de alguma maneira, eu já estava envolvido na confusão.